O perigoso aceno ao radicalismo – por Edson José Ramon
O brasileiro se sente abandonado pelas autoridades e pesquisas mostram que parcela expressiva da população manifesta tendência a apoiar propostas com viés autoritário
Edson José Ramon
Assistimos, país afora, acenos ao autoritarismo de alguns setores da sociedade expressando certo saudosismo do tempo dos militares. Há que se reconhecer que o regime dos generais presidentes deixou como legado uma grande infraestrutura em rodovias, hidroelétricas, telecomunicações, portos e aeroportos, olvidando, no entanto, o chamado investimento social, na expectativa de que o processo de competição do capitalismo resolvesse por si só esta questão.
Grandes mobilizações levaram ao esgotamento desse período e o comando da nação foi devolvido a governantes escolhidos pelo voto.
O que se viu ao longo de mais de três décadas é que a experiência democrática também teve suas mazelas. O país não conseguiu dar o salto para o futuro que se esperava, oportunistas tomaram de assalto o Estado, a política virou um balcão de negócios e a corrupção assumiu proporções gigantescas.
Não à toa, pesquisas de opinião pública mostram que parcela expressiva da população manifesta sua tendência a apoiar propostas com viés autoritário. A triste constatação é que, para parte dos brasileiros, equivocadamente, o Brasil não está preparado para a democracia. De acordo com a pesquisa Índice de Propensão ao apoio a Posições Autoritárias do Forum Brasileiro de Segurança Pública, numa escala de 0 a 10, o índice de apoio a posições autoritárias no Brasil chega a 8,1.
Vivemos certa corrupção dos costumes, uma permissividade geral que assusta o cidadão
Por que isso? A principal razão foi a constatação de que em dois terços do chamado período democrático os governos de esquerda ou centro-esquerda, com amplo discurso social, não atenderam demandas importantes da sociedade brasileira, como na questão da segurança pública. O brasileiro hoje se sente abandonado pelas autoridades enquanto o banditismo campeia pelas ruas impunemente. Perdeu-se o respeito à vida, com criminosos saqueando à luz do dia, explodindo bancos, roubando nas esquinas, matando por míseros trocados.
De dentro dos presídios, criminosos ordenam fuzilamentos, represálias às forças públicas, ordenam a queima de veículos e ônibus. Boa parte destes crimes são praticados por menores, protegidos por leis absurdas. O tráfico de drogas contamina pequenas cidades e grandes metrópoles. A impunidade é a marca do país.
Vivemos certa corrupção dos costumes, uma permissividade geral que assusta o cidadão. Um exemplo está em nosso atrasado sistema de ensino. Multiplicam-se as escolas que não educam e os professores que não lecionam. Alunos chegam às universidades sem saber a tabuada, desconhecendo a história do Brasil ou um mínimo de sua geografia.
O país tornou-se refém dos direitos dos cidadãos, e nada de deveres. Ninguém deve nada ao país, nem respeito às leis, aos mais velhos, aos empreendedores que geram a riqueza. É o país da colheita, mesmo que não haja plantio. A desordem está em todo canto, sem respeito às regras de civilidade. Se uma comunidade é mal atendida, bloqueia rodovias, provoca longos congestionamentos, desconforto, prejuízos incalculáveis sem qualquer respeito ao direito do outro.
É óbvio que esse caos social afeta a economia, que por anos tem crescimento pífio. Há um preocupante êxodo de brasileiros para outras plagas na busca de trabalho digno e segurança. A fuga de capital para paraísos fiscais ou para investimentos em países mais confiáveis é incalculável.
Em meio a tudo isso, descobre-se o óbvio. A classe política está, em parte corrompida em razão de um processo eleitoral perverso e típico de país atrasado, onde praticamente só se elegem quem já tem poder ou muito dinheiro. Daí para o desvio de recursos públicos é um passo pequeno.
Em meio a este caldo chegamos às eleições de 2018 com uma preocupante rejeição aos políticos, como se fosse possível um país existir sem eles. A perspectiva de saídas radicais, tanto à esquerda como à direita, nos leva a um impasse e incertezas sobre os rumos que o país tomará a partir de 2019.
Não veem os menos radicais que o próximo presidente terá de ser alguém equilibrado, experiente, sem ranço extremista, afeito ao diálogo, porém firme no exercício da autoridade e corajoso, que saiba negociar com o Congresso a aprovação de medidas impopulares, mas necessárias para salvar o país. Um político sim, que não criminaliza os chamados centristas, pois é possível que ali estejam os que vão decidir na Câmara Federal e no Senado, o futuro do país.
Deixemos de lado o aceno ao radicalismo. Nosso rumo deve seguir o caminho do meio. Este milenar conceito budista nos ensina que em nossa vida pessoal devemos prezar pela moderação e evitar os extremos, uma ideia que vale também para as responsabilidades de cada um em relação ao país.
Edson José Ramon, empresário, é presidente do Instituto Democracia e Liberdade (IDL) e ex-presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP).”
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Foto: Henry Milléo