Em palestra a convite do IDL, deputado Rubens Bueno defende a revolução pela educação para formar bons eleitores e bons governantes
Um auditório lotado acompanhou na noite desta segunda-feira, no Hotel Mabu, em Curitiba, a palestra “A conjuntura nacional brasileira pós impeachment”, ministrada pelo deputado federal Rubens Bueno a convite do Instituto Democracia e Liberdade (IDL).
Dando as boas vindas aos presentes, o presidente do IDL, Edson José Ramon, enalteceu a presença do deputado, um dos principais responsáveis pela aprovação do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Ramon fez também uma referência especial às mulheres do Movimento Mais Brasil, que, segundo ele, “aguerridamente fizeram rufar os tambores os tambores da indignação que os brasileiros têm em razão dos acontecimentos recentes no país”.
“O deputado Rubens Bueno, ao ser protagonista do processo de impeachment, em muito contribui para o êxito do trabalho do IDL, bem como de todos aqueles que trabalham incansavelmente para a saída da presidente e do governo do PT”, disse.
O deputado falou em seguida, norteado por um roteiro de perguntas elaboradas pela diretoria do IDL, conforme a seguir:
Como o senhor avalia o cenário pós impeachment?
Rubens Bueno: Acho que devemos aguardar mais um pouquinho para avaliar. Hoje o Senado instalou a comissão especial e a partir de agora teremos dez dias para chegar ao parecer final. Concluído, o processo vai a plenário e terá 48 horas para ser votado. Lá pelo dia 10 de maio, instaurado o processo no plenário, a presidente será afastada e teremos o novo governo, ou seja, começaremos a respirara melhor.
Muitos podem perguntar: “Existe uma desconfiança com relação ao vice-presidente da República?” É importante mostrar como os fatos se repetem, visto que tínhamos esta mesma desconfiança com o ex-presidente Itamar Franco, quando assumiu após a queda de Fernando Collor. Da mesma forma, tínhamos também o mesmo cenário na Câmara, com um presidente – Ibsen Pinheiro – que foi cassado logo em seguida.
Também existem questionamentos quanto à representatividade dos deputados federais. Na Câmara, todos são eleitos pelo voto e têm as mesmas prerrogativas. O que temos que discutir é o voto, como é nosso representante. Se alguém estiver fazendo algo que não seja a busca permanente pelo bem comum, não está fazendo política.
Qual a sua análise sobre os fatores que levaram a este cenário de crise?
Rubens Bueno: Para analisar este cenário, devemos voltar a 2009, quando explodiu a crise imobiliária americana. E essa crise chegou no mundo todo, contaminando as economias do mundo. Naquela época, o que o então presidente Luís Inácio Lula da Silva disse? Que aquilo não passava de uma marolinha…
Se as devidas correções tivessem sido feitas naquele momento, talvez não estivéssemos pagando um preço altíssimo agora.
No ano seguinte, 2010, como o Brasil cresceu 7,5%? Porque ele foi turbinado de todas as maneiras possíveis com relação ao crédito: imobiliário, automóvel e demais. Resultado: não havia lastro, era evidente que teríamos uma ressaca, que começou em 2011. Mais três anos, chegamos em 2014, ano de eleição, o que o governo faz? Turbina com dinheiro público os programas sociais e diz que economia vai bem.
Foram pegos R$ 40 bilhões do BNDE, quando o governo já não tinha dinheiro, e isso se repetiu em 2015. A conta hoje está em R$ 126 bilhões, um furo do orçamento do governo federal.
Vimos também um quadro de estelionato eleitoral, porque a presidente mentiu sobre aumento de juros, disse que não haveria inflação nem desemprego. Ela fez um discurso durante a campanha, ganhou no domingo e dois dias depois aumentou os juros. Ou seja, praticou estelionato eleitoral pra se manter no poder. Em 2015, tivemos um decrescimento de mais de 4%. O desemprego aumentou e, em março, registramos 119 mil desempregados e mais de 100 mil empresas fechando as portas.
O Brasil chegou a este ponto, e agora, no pós impeachment, precisamos pensar profundamente no que vamos fazer. Em primeiro lugar, precisamos defender e apoiar o vice-presidente da República, porque esta é a ordem legal, é a linha sucessória do que manda a constituição e a lei.
Também temos que acertar o quadro de desequilíbrio fiscal, pois não é possível gastar mais que arrecadar. Para mim, equilíbrio fiscal é a palavra de ordem. Vale aplicar no governo a forma como economizamos em casa. E temos que sinalizar para o mercado, para a sociedade e para o mundo que existe um novo governo que não vai gastar mais do que arrecada. A estabilidade fiscal é um bem público e não podemos permitir que ninguém acabe com isso.
Qual será o papel do Congresso neste cenário pós impeachment?
Rubens Bueno: Somos 513 deputados, 81 senadores de diferentes movimentos, do mundo evangélico ao mundo sindical, ou seja, grande parte da sociedade brasileira está lá representada.
Primeiro, acredito que o governo terá que mandar propostas, seja com relação à questão da previdência social, seja sobre o orçamento público. Penso que o Congresso terá um papel muito importante, muito difícil também, por isso acho que Michel Temer dará conta do recado, visto que ele possui a maior bancada da Câmara e do Senado, é muito articulado, educado, trata e recebe bem, enfim, está preparado.
O senhor acha que Michel Temer terá condições de formar uma aliança que permita a governabilidade?
Rubens Bueno: Um presidente em um sistema político como o brasileiro, ou ele tem boa articulação ou não governa. Acredito que Michel Temer terá condições de manter boas relações para estabelecer apoios e alianças que deem condições de governabilidade. Serão precisos grandes projetos e grandes sacrifícios, pra mostrar à opinião pública a boa vontade do governo.
Como o senhor achar que Michel Temer se posiciona a respeito da continuidade da Operação Lava Jato?
Rubens Bueno: Ele não pode fazer nada, quem tentou fazer algo e acabou dando “um tiro no pé” foi a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, tentando tirar da cadeia ou reduzir a pena de poderosos, mostrando claramente que não sabem o que significam as instituições republicanas.
Michel Temer não tem o que fazer e não fará, visto que a Operação Lava Jato é a polícia, a justiça e o Ministério Público fazendo o seu trabalho e cumprindo com seu papel. Precisamos enaltecer a atuação destas instituições, mostrar estes brasileiros que são um exemplo. Para nós, herói é herói, e criminoso é criminoso.
Quais são as principais reformas, inclusive políticas, que o senhor defende que deveriam ser propostas e que são viáveis no Congresso?
Rubens Bueno: Antes de mais nada, é preciso enfrentar com urgência a questão do equilíbrio fiscal, para resgatarmos a credibilidade e segurança e avançarmos no ponto econômico.
Penso que devemos refletir sobre dois pontos primordiais: o primeiro é a urgência de uma grande reforma do sistema político brasileiro, esse está superado, esgotado e não há mais nenhuma razão para que ele exista. Ele cria uma estrutura falha, onde eleitos negociam para votar junto com o governo e, caso não cheguem a um acordo, nada anda.
Com isso, o que acontece? O governo cria mecanismos para poder atender esta demanda, seja na forma de emendas, cargos ou propinas. Há quanto tempo isso acontece? A cada governo se amplia mais, e o custo da máquina chega ao que conhecemos a partir dos números de 2016. O governo destruiu a Petrobras com essa brincadeira, esta que era uma das dez maiores empresas do mundo.
O segundo ponto é que só vamos mudar o Brasil para valer se fizermos a revolução pela educação. Não vamos melhorar em nada o país, ou muito pouco do que precisamos, se continuarmos nesta “lenga lenga”. A falta de investimentos em educação, tecnologia e inovação distancia o Brasil do resto do mundo, que está todo ligado, conectado. A educação é primordial para termos bons governantes e representantes, e, acima de tudo, formarmos bons eleitores, que sejam críticos e conscientes do seu papel do voto.