18/07/2019

Câmbio: O Termômetro da Competência Fiscal

economia brasileira

Quem não estuda e remove as “causas das causas” está condenado a sofrer efeitos que se repetem.

A taxa de câmbio é efeito de forças poderosas. Entre elas está a confiança e o medo. Para o Brasil, sem reformas não haverá estabilidade cambial e sem câmbio estável não haverá investimentos nem redução do desemprego. Veja por quê.

A gigantesca dívida pública brasileira atual é efeito do aumento do custo do estado e da baixa arrecadação, a qual é efeito do baixo consumo que por sua vez é efeito do desemprego, que é efeito da redução nos investimentos.

O Brasil e o mundo têm enormes necessidades que podem se converter em oportunidades econômicas em áreas como extração, indústria, infraestrutura, comércio e serviços. Todas com grande potencial de atender a demanda interna e externa, gerando milhões de empregos. Contudo, certos investimentos só serão competitivos se o custo do aluguel do capital, ou seja, do juro, ficar abaixo de 7% ao ano, mas no Brasil o financiamento pode passar de 21% ao ano. Como competir se no exterior o juro anual é de 6%?

Uma das razões para o alto custo de empréstimos no Brasil é a escassez de recursos. A poupança brasileira está em um dos seus piores níveis em torno de 14% do PIB contra 25% da média mundial e até 40% em alguns países asiáticos. Como o governo só acumula dívidas, a alternativa é estimular investimentos por parte da iniciativa privada, quer nacional ou estrangeira.

O problema é conseguir crédito externo, pois quando os governos do PT perderam o controle das despesas e a dívida pública explodiu, o Brasil perdeu, em 2015, o seu grau de investimento, ou seja, perdeu a confiança de conseguir manter o valor do Real frente às moedas internacionais. O câmbio esteve a R$1,71 em 2012 chegou a R$3,50 em 2015.

Com isso alguns fundos de pensão internacionais passaram a evitar o Brasil. A razão disso é simples: se um fundo investir US$100.00 no Brasil a um câmbio de R$3,90 por dólar, estará investindo R$ 390,00 Reais. Se o investimento render 10% ao ano ele terá R$429,00 ao final do primeiro ano. Porém, se o Brasil não conseguir reduzir seu déficit primário e houver uma corrida por receio de inadimplência do governo brasileiro e o Real se desvalorizar para R$5,00 por dólar, o investidor ficará com R$429,00 dividido por R$5,00 = ou seja US$85,80. Assim terá perdido 14,20% do capital investido e o gestor do fundo poderá ter que responder judicialmente no seu país por gestão temerária.
Se o investimento em dólar for feito por um empresário brasileiro, este poderá quebrar ao ver sua dívida dobrar pelo efeito do câmbio como ocorreu entre 2012 e 2015.

Portanto, sem reduzir o déficit público não há como recuperar a confiança que o governo brasileiro conseguirá manter a estabilidade da moeda e honrar os pagamentos para quem quiser retirar seus recursos do Brasil. É por isso que sem recuperar o “grau de investimento” será difícil motivar investidores internos e externos.

Sem investimentos, não teremos criação e recuperação de empregos, nem renda, nem consumo, portanto não haverá recuperação da arrecadação de impostos.

Não há solução mágica. Ou o Estado reduz suas despesas ou dentro de algum tempo não conseguirá pagar nem aposentados, nem funcionários, nem fornecedores. A redução dos gastos serviu no passado como uma âncora cambial e isto pode se repetir se nossos deputados e senadores pensarem no Brasil e não nos seus interesses imediatos.

Deputados que resistem às reformas porque não entendem seus efeitos, deveriam se informar melhor. Deputados que entendem, mas temem que isto possa gerar prestígio à nova equipe do poder executivo deveriam renunciar ou ser cassados por seus pares ou pelos seus eleitores. Afinal sua atitude é criminosa, pois compromete o futuro de milhões de brasileiros de todas as idades. Não saber é imperdoável. Não querer saber é crime de responsabilidade.

 

Autor: Paulo Henrique Wedderhoff

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