11/03/2019

IDL compartilha carta recebida do jornalista Eugênio Bucci

Prezado Senhor Edson José Ramon,

Obrigado por sua mensagem. A sua carta dignifica o seu trabalho. Muito obrigado.

Se houve, no meu artigo, sinais de prepotência — que entendo como o uso de poder para intimidar, constranger ou obrigar a obediência ou atituto de concordância –, acho que escrevi mal o que pretendia escrever. Eu quis, sim, endereçar uma crítica mais dura ao MEC e, por extensão, ao governo. Eu quis, também, apontar com ênfase os erros cometidos pelas autoridades (e, nisso, pelo que depreendi de sua carta, estamos de acordo). O que eu não quis de modo algum foi demonstrar prepotência, postura que supõe intolerância em relação às vozes discordantes. Essa impressão eu não gostaria de ter causado, pois não corresponde ao meu sentimento quando discuto política ou temas da cultura em geral. Sou franco na exposição de um ponto de vista e, com a mesma energia, procuro ser acolhedor para acatar e considerar as formulações contrárias. É o que faço agora nesta resposta.

Em mais de uma ocasião deixei bastante claro que, como cidadão brasileiro, reconheço a legitimidade e a legalidade do governo de turno. Reconheço-o e, mais ainda, respeito-o. Muitas vezes, por sinal, a crítica direta é sinal de respeito, pois é a manifestação de alguém que gostaria de ver certos cursos corrigidos. Do mesmo modo entendo que um governo em seu início enfrenta destrambelhamentos vários. Tudo faz parte do jogo. Chamo a sua atenção, porém, para inúmeros sinais de prepotência, aí sim, no sentido castiço da palavra, que nos chegam de ocupantes do governo. Pergunto: a mensagem carnavalesca do presidente da República, acompanhada de um vídeo obsceno, não resvalou na prepotência, em tom de admoestação contra os que apreciam o carnaval? Ou, ainda: a declaração do mesmo presidente dando a entender que a democracia seria uma dádiva das forças armadas, não poderia soar prepotente? Eu mesmo já recebi mensagens ou já me vi retratado ou citado em textos de tons ameaçadores. Não se trata de um momento pacífico. Por isso mesmo, eu fico preocupado se, aos seus olhos, pareci prepotente.

Quanto à sua referência a uma fala de Lula, lembro que estão publicados muitos artigos meus com críticas diretas a essas atitudes. Sim, os governos do PT erraram muito, e não só nesse ponto. Do meu lado, modestamente, cumpri o dever de apontar os erros e de elaborar críticas duras.

O senhor parece sugerir que o PT seria o “meu” PT. Não é bem assim. Não sou militante do PT pelo menos desde 1986. Nessa data, quando os filiados foram chamados a se refiliar, ou perderiam os laços com o partido, eu não me refiliei nem me recadastrei. Desde então, não cumpri mais um único dever dos filiados e nem exerci um único direito de membro do partido. Jamais contribuí com campanhas financeiras do partido (desde 1986). Tenho orgulho de ter ajudado a construir o PT, entre 1980 e 1986. Atuei, como editor de uma revista teórica do partido até 1992, mas essa era uma atividade não partidária — o editor que me sucedeu não era filiado ao PT. Quando fui convidado a presidir a Radiobrás, aceitei a incumbência, não como militante, mas como um cidadão, um estudioso e um profissional que conhecia o mundo das comunicações. Também me orgulho do trabalho que fiz na Radiobrás, mas nada do que fiz seguiu qualquer critério partidário, mesmo o mais longínquo — o que foi amplamente reconhecido. Objetivamente, enfim, não tenho nenhuma atividade dentro do PT. Respeito o PT, respeito muitos de seus expoentes, mas, para benefício da clareza da nossa comunicação, reitero que não sou um petista ativo atualmente, embora me identifique com as agendas da esquerda de modo geral.

No mais, reafirmo meu agradecimento por sua mensagem. Conte comigo para ler com atenção os seus argumentos e para levar em conta os seus alertas. Saiba que li com atenção a sua carta e vou considerá-la em meus próximos escritos.

Atenciosamente,

Eugênio Bucci

  • Abaixo, a carta enviada em 11 de março ao jornalista pelo IDL:

 

 

SENHOR EUGÊNIO BUCCI 11_03_2019

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