A Facada – por Antenor Demeterco Júnior
Há muitos anos, o advogado e jornalista João Duarte Dantas (1888-1930) entrou para a História do Brasil por ter assassinado João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque (1878-1930), candidato à vice-presidente do país na chapa de Getúlio Vargas.
Esta morte é considerada o passo inicial da Revolução de 1930.
João Pessoa e Dantas tinham uma rixa pessoal, em razão da publicação de cartas íntimas sobre o relacionamento amoroso do último com a professora Anaíde Beiriz.
Dantas e seu cunhado foram posteriormente chacinados por participante da revolução.
E o pivô dos acontecimentos, a infeliz Anaíde morreu em seguida por envenenamento.
A imbecilidade humana teve uma repetição histórica em nosso meio com o atentado de 06 de setembro de 2018 contra o presidenciável Jair Bolsonaro, líder nas pesquisas eleitorais, praticado por Adelio Bispo de Oliveira.
A possível eliminação de Bolsonaro atenderia a muitos interesses, que desbordam do campo meramente esquerdista de onde saiu o criminoso.
Atentados políticos em geral são planejados de modo compartimentalizado para que eventuais mandantes permaneçam nas sombras após a escolha a dedo de desajustados integrantes de grupos que afastam qualquer suspeita sobre eles (mandantes ou mandante).
Bolsonaro investe em sua campanha contra vultuosos contratos governamentais de publicidade, contra o crime organizado, contra políticos corruptos, em privatizações (que desempregam indicações políticas), em neutralização de movimentos que se dizem sociais, na defesa do governo militar de 1964, etc.
A promessa dele é de extinguir a desorganização muito bem organizada que foi implantada no Brasil.
Quando uma investigação é iniciada pelo papo de que o crime político é obra de um “lobo solitário”, os chefes da alcatéia agradecem aos céus.
A compartimentalização do projeto criminoso, como é usual, truncará a apuração do fato, como aconteceu no mundialmente famoso caso Kennedy.
O assassino Lee Oswald escolhido por ser desajustado e atirador de elite, com origens comunistas, casado com uma russa, e recentemente vindo da União Soviética, trouxe as suspeitas para um campo possivelmente inocente.
Até hoje suspeitas e dúvidas permanecem vivas: acusa-se ora o crime organizado, ora setores da inteligência governamental americana, ora exilados cubanos, ora Fidel Castro, etc.
A “queima de arquivo” no caso, ou seja, o assassinato do assassino foi realizada por um integrante menor da máfia.
Lee Oswald não teve tempo de abrir o bico, e ao que tudo indica, a máfia era a principal interessada nesse silêncio.
No caso Bolsonaro, corre- se o risco de uma apuração concluída pela metade.
E o fato pode dar início a uma seriação de outros crimes, como no caso inacabado do assassinato do prefeito de Santo André, possível vítima de gente muito próxima.
O frustrado assassino de Bolsonaro está a correr riscos pessoais, e não necessitamos ser adeptos de “teorias da conspiração” para sermos profetas.
Lobos de dentes afiados já devem estar a rondá-lo.
Curitiba, 22 de setembro de 2018.