Apesar de tudo, o Brasil está longe do abismo – por Edson José Ramon
IDL compartilha artigo veiculado na edição de hoje (22.10) da Gazeta do Povo.
Edson José Ramon
Apesar de tudo, o Brasil está longe do abismo
Em 2005, o Brasil foi apresentado a um esquema de corrupção sem precedentes, o mensalão, comandado de dentro do Palácio do Planalto, que envergonhou a classe política e deixou atônita a população.
Do episódio resultou como saldo meia dúzia de presos e um herói, Joaquim Barbosa, então presidente do STF, logo esquecido. Apesar do episódio, reelegemos o seu chefão Lula para um segundo mandato, com honras de herói e estadista. Em outubro de 2010, a população brasileira premia novamente o Partido do Mensalão elegendo a inexpressiva Dilma Rousseff, olvidando todas as evidências de corrupção e absoluta incompetência do governo Luiz Inácio Lula da Silva, sendo reeleita para novo mandato em 2014.
Neste período a Lava-Jato mostrou aos brasileiros que o mensalão não só não acabara, mas cresceu em proporções geométricas envolvendo funcionários de estatais, partidos políticos e empresários, alcançando cifras inimagináveis. Um novo herói emergiu e com todos os méritos, o juiz paranaense Sérgio Moro, coadjuvado por procuradores da força-tarefa.
Assume Michel Temer com o país envolto na maior crise econômica de sua história, com 14 milhões de desempregados. O salve-se quem puder da Lava-Jato com as delações da JBS e Lúcio Funaro colocaram em xeque a PGR, o STF, a Presidência da República e o Congresso Nacional. Vieram os episódios da mala do assessor da presidência e os inacreditáveis R$ 51 milhões no apartamento do ex-ministro Gedel Vieira Lima. A percepção, por parte dos brasileiros, de que manobras legais, porém de moralidade duvidosa, têm sido utilizadas para salvar a pele de políticos corruptos, só vem agravar este quadro.
Nesse ambiente, viceja certa desesperança com os rumos do país, com a percepção da população de que tudo está perdido, de que as grandes mobilizações pelo impeachment deram em nada, de que todos os políticos são corruptos e que o sistema está apodrecido, fazendo prosperar discursos alarmistas com soluções heterodoxas.
O bom desempenho da economia no governo Temer e as medidas saneadoras após a desastrosa gestão petista não são suficientes para restabelecer a confiança da população em um governo, com alguns membros envolvidos em graves acusações.
Assim, ganham importância o crescimento eleitoral de figuras controvertidas como Jair Bolsonaro, capitão da reserva, com seu discurso agressivo, raso e de tom populista, e as polêmicas declarações do general Mourão sobre eventual intervenção das Forças Armadas na hipótese de caos institucional. No caso do general, é preciso analisar a fala com algum distanciamento. O fato de um militar de alta patente ter se manifestado naquele tom deve, na verdade, servir como alerta para que as instituições sejam rigorosas no cumprimento de seu papel e que não se abra brechas a soluções que não se coadunem com o regime de plena democracia.
É evidente que o atual modelo político não se sustenta mais como garantidor de uma democracia moderna e transparente. O chamado presidencialismo de coalizão apoia-se precariamente na profusão de partidos que vemos hoje, em sua maioria agremiações desprovidas de princípios doutrinários, configurando um ambiente de grandes dificuldades para os arranjos políticos-institucionais. Os partidos deveriam ser os garantidores da intermediação entre os interesses da sociedade e o Estado, mas o que o cenário mostra é um fisiologismo escancarado.
Infelizmente, o Congresso acaba de perder oportunidade histórica de promover uma reforma política mais profunda. A proposta inicial foi seriamente desidratada, resultando na aprovação do necessário fim das coligações proporcionais, mas para valer só a partir de 2020, e em uma tímida cláusula de desempenho, dando sobrevida a partidos de ocasião que são verdadeiros balcões de negócios.
Mas, vamos lá, mesmo reconhecendo a gravidade da situação, não podemos permitir que discursos catastrofistas proliferem, pois estamos longe da beira do abismo. Caos é o que se passa, por exemplo, na Venezuela, onde a experiência populista/socialista de Chaves e Maduro foi levada ao extremo, conduzindo o país ao desastre econômico e institucional. Lá, sim, o perigoso passo rumo ao precipício foi dado, mas no Brasil o sistema democrático é robusto e as instituições estão em pleno funcionamento, em que pese decisões controversas que estarrecem a sociedade.
Neste momento de desalento, há que se fazer um esforço para enxergar que o país não está parado, que avanços foram alcançados, que já atingimos o fundo do poço da crise econômica e que daqui pra frente só se falará em volta do crescimento e do emprego, que algumas reformas podem atrasar mas que virão sem dúvida alguma, porque são demandas da sociedade e não dos partidos no poder. Vamos também tentar separar o joio do trigo: nem todo político é corrupto, nem todo político mente. Se o sistema está contaminado, é possível depurá-lo e distinguir os bons dos maus.
2018 está logo aí, oportunidade de dar um basta àqueles que se elegem para contaminar a política com as piores práticas. A saída aos impasses está em nossas mãos, literalmente diante da urna eletrônica. Trata-se de um dilema, mas a solução para nossos males passa pela própria política tão execrada. É no processo democrático que exercemos a vigilância da coisa pública e só assim poderemos por fim à corrupção desenfreada e aos privilégios das castas instaladas do estado brasileiro.
A um ano das próximas eleições, precisamos como nunca da classe política, de políticos honestos, experientes, com conteúdo e eficiência comprovada, que existem e estão por aí. Eles precisam do apoio dos brasileiros de visão. A alternativa é lutar pela solução democrática, respeitar a Constituição e as leis, única forma de alcançar o objetivo comum de todos os homens de bem, que é o crescimento da nação e o bem estar do povo brasileiro.
Edson José Ramon, empresário, é presidente do Instituto Democracia e Liberdade (IDL) e ex-presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP).