IDL compartilha o artigo “Política e cidadania”, escrito por Paulo Henrique Wedderhoff
Por Paulo Henrique Wedderhoff
Coordenador do Grupo de Conceitos do IDL
Atribui-se a origem da palavra política ao termo grego politikós que significa ações relacionadas aos interesses dos grupos que compõem a pólis, ou seja, a cidade.
Neste contexto, podemos dizer que toda decisão ou ação que afeta muitos, é política.
Quando pensamos em política, logo associamos o termo a decisões que podem afetar uma cidade, um estado, uma nação ou todo o planeta.
Avalie, por exemplo, os impactos da decisão que gerou o incidente conhecido como 11 de setembro nos EUA e seus desdobramentos com perdas de vidas humanas na guerra do Iraque, do Afeganistão, da Síria e mais recentemente o surgimento do ISIS. Adicione também os custos financeiros e o sofrimento das famílias em seu êxodo para a Europa e outros países.
Tomás de Aquino, o filósofo dizia que política é a arte de governar os homens e administrar as coisas, visando o bem comum, de acordo com as normas da reta razão.
A qualidade das decisões políticas de um governo acaba afetando a percepção e as decisões dos governados. Em uma democracia, isto pode influir na renovação de um mandato ou até na remoção de um governante como foi o caso do impedimento do ex-presidente Collor.
Devido à desinformação ou frustração de expectativas, muitas pessoas dizem categoricamente que não gostam de política. Essas pessoas, não fazem ideia do prejuízo que estão gerando para si mesmas e para o grupo social. Votando em branco, ou anulando o voto, ou não comparecendo às urnas, por exemplo, diminuem o número de votos válidos e facilitam a vida de quem não gostariam de eleger. Seria importante que todos compreendessem que seu desinteresse equivale a renunciar à cidadania, sem que isto os liberte de vivenciar os efeitos da sua renúncia.
Platão, o filósofo grego, discípulo de Sócrates dizia: – Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política. Simplesmente serão governados por aqueles que gostam.
Precisamos mudar o nosso conceito de política e para isso, o primeiro passo é separar a palavra política, de politiqueiro e de politicagem. Na Grécia antiga, em cidades como Atenas, os cidadãos livres participavam da assembléia para discutir os problemas comuns a todos e tomavam decisões destinadas a solucioná-los.
Baseado nesta experiência, Aristóteles, um dos maiores sábios gregos, dizia que política é a ciência e a arte do bem comum, ou seja, de todos. Para ele a cidade deveria ser governada em proveito de todos, e não apenas em proveito dos governantes ou de alguns grupos.
Muitas vezes, não percebemos, mas algumas decisões políticas afetam a vida de todos. Os gastos públicos, por exemplo, diminuem as verbas disponíveis para investimentos públicos em educação, estradas, saúde, segurança, financiamento de novas empresas, etc. Estes gastos aumentam a dívida pública a qual precisa ser “rolada”, ou seja, contrata-se uma nova dívida, para pagar a velha. Isto mantém os juros elevados e atrai especuladores estrangeiros. O aumento da oferta de dólares fortalece o Real e derruba o câmbio. O câmbio excessivamente barato, deixa o produto importado muito competitivo e torna difícil exportar produtos nacionais. A produção cai e as fábricas dispensam parte da sua mão de obra; passam a produzir no exterior ou fecham. Criamos empregos lá fora e desemprego em nosso país.
É por razões como estas que nenhum cidadão pode ignorar a política. Cada pessoa deve procurar compreender e participar da política, para atuar politicamente e assim influenciar o poder. Cada cidadão e cidadã deve conscientizar-se, informar-se, ouvir, ler, falar, debater, estudar e procurar formar sua opinião sobre os diferentes desafios locais e nacionais. Com consciência política estaremos preparados para votar, fazer sugestões, acompanhar os trabalhos dos nossos representantes, exigir e reagir quando for necessário.
Toda eleição é um contrato. O candidato promete, as pessoas votam e esperam que ele cumpra o que prometeu. Se ele mentiu ou foi incompetente, temos o direito constitucional de não renovar o contrato ou afastá-lo do cargo antes que os danos se ampliem.
Atitude política é efeito de consciência política. Governo sério é efeito de um povo consciente e que exerce seus deveres para poder cobrar seus direitos.