10/11/2017

Movimentos liberais ganham forças nas universidades

Graduado em finanças com MBA pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Foi executivo do Banco Garantia, Mídia Investimentos e da Sextante Investimentos. É fundador e membro do conselho consultivo do Instituto Millenium e fundador-presidente do Instituto Mises Brasil. Também é membro do conselho de administração do Grupo Ultra, da Le Lis Blanc, da Artesia Investimentos, do conselho consultivo da Ediouro Publicações e da Lab SSJ.

A organização estudantil internacional Students For Liberty (SFL) realizou uma palestra com Hélio Beltrão, membro do conselho de administração do Grupo Ultra e Presidente do Instituto Mises Brasil (IMB), e com o criador do maior canal brasileiro de Youtube voltado a defesa das ideias da liberdade, Raphäel Lima.
Hélio Beltrão palestrou sobre a importância da valorização do empreendedorismo em nosso país, uma vez que apenas em uma sociedade livre onde há facilidade de se criar negócios e inovar é possível atingirmos o desenvolvimento econômico e social. Já Raphäel Lima traçou importantes considerações sobre a Crise de 1929, mostrando como certas ações estatais contribuíram para o surgimento da Grande Depressão.

DI&C – Houve também o crescimento de movimentos mais conservadores em nosso país nos últimos anos, dos quais a figura mais conhecida é o pré candidato a presidência da república Jair Bolsonaro. Afinal, há diálogo entre liberais e conservadores? Quais os pontos convergentes e divergentes sua na opinião?
Ricardo Beltrão Em termos de economia, os conservadores tendem a achar que o governo é muito grande. É uma área que há convergência. Na área social há divergências: o liberal é favor da associação entre pessoas do mesmo sexo, da liberalização das drogas. O liberal também acredita no devido processo legal, o amplo direito de defesa e a presunção de inocência. Em geral, alguns conservadores tendem a não concordar com essas ideias. Quando você está tentando fazer impacto em política, quando você tem uma agenda específica, pontual, para um tema de escopo limitado, você pode ter parceria com quem quer seja, desde fique claro que não é uma aliança estratégica de longo prazo. Sou contra o fusionismo, mas em questões específicas, pontuais, sempre pode haver alianças.

DI&C – Muito tem se debatido sobre a reforma da previdência em nosso país. Como você vê essa reforma? A atual proposta do governo estaria de acordo com uma proposta liberal para o tema?
Beltrão A reforma da previdência está na direção correta, mas não está na proposta liberal para o tema. A proposta liberal viável hoje é transformar o regime de repartição para o regime de contas individuais, ou capitalização. O Chile fez assim e foi copiado quase que integralmente por outros 33 países na década de 80, além de outros oito que adotaram muitas das medidas chilenas. Essa discussão deveria estar na mesa. É a única que ataca a causa fundamental do problema. O próprio governo admite que se somados os regimes Próprio e Geral da Previdência, dá um déficit atuarial de mais de 100% do PIB. Estão tentando mudar as regras no meio caminho para tentar diminuir essa dívida acumulada. Mas continua sem endereçar o problema fundamental. Eu defendo essa mudança mais corajosa para o regime de contas individuais.

DI&C – E quanto a reforma trabalhista, que é duramente criticada pelos sindicatos de trabalhadores, ela estaria de acordo com suas convicções? Precisaria melhorar em quais aspectos?
Beltrão A reforma trabalhista foi na direção correta, de permitir mais livre-negociação. Mas isso não é suficiente para endereçar as causas fundamentais dos problemas de baixo salário, baixa produtividade e baixo crescimento do emprego, precisamos discutir a CLT e a Justiça do Trabalho. Acredito que os direitos dos trabalhadores ficarão mais bem-resguardados uma vez extintas a CLT e a Justiça do Trabalho. Não é colocando direitos em um código que eles se tornam realidade. Paradoxalmente é através de não obrigar direitos que se vai alcançar maior produtividade, maiores salários e maiores níveis de emprego.

DI&C – Você palestrou sobre empreendedorismo e a nossa atual crise econômica. Como ambos se relacionam? Qual o papel do empresário na recuperação econômica brasileira?
Beltrão Empresário e empreendedor são a força vital da economia. Sem eles, não emprego, investimento, e portanto crescimento econômico. O governo criou obstáculos e políticas insustentáveis que tornaram a atividade econômica pouco rentável ou negativamente rentável. Acreditando que estava estimulando a economia, o governo fez o contrário, tornando mais difícil para o empreendedor obter retorno sobre seu capital e seu esforço. É preciso que o governo governe menos parta que o empreendedor empreenda mais. Só assim teremos mais empregos, investimentos e crescimento.

DI&C – Recentemente o pré-candidato a presidência da república, Ciro Gomes, afirmou que o Brasil precisa desenvolver políticas nacional-desenvolvimentistas para sair da crise. Qual sua opinião sobre isso? A saída da crise, afinal, passa pela atuação do Estado?
Beltrão Passa pela atuação do estado se ele diminuir a intrusão governamental, se ele não resolver fazer políticas centrais, impostas de cima pra baixo, seja com o viés que for. O que deu errado nos últimos anos, principalmente no governo Dilma, foram políticas nacional-desenvolvimentistas de aumento do crédito, direcionamento do crédito, política industrial via BNDES, justamente o que não deveríamos fazer. A política de desvalorizar o câmbio forçadamente para tornar o país mais competitivo é só um truque de Mandrake. Não se torna país mais competitivo manipulando taxa de câmbio. Um país fica mais competitivo à medida que ele possa comprar produtos mais baratos, à medida que o empreendedor possa empreender o máximo possível sem constrangimentos e barreiras impostas pelo governo e possa comprar seus produtos em qualquer lugar do mundo. A China é um dínamo porque é uma economia aberta para o mundo exterior – apesar de ser fechada em termos sociais. A saída da crise passa por mudar as políticas que já estão sendo feitas, que o Ciro Gomes está falando, e que não têm funcionado. O estado tem que diminuir a sua atuação. Ele não é a solução, é o problema.

DI&C – Estamos a aproximadamente um ano e meio das eleições presidenciais. Considerando o exposto em sua palestra, o que você espera de um candidato a presidente no âmbito econômico ? Ou seja, quais propostas o novo presidente deve colocar em ação para a retomada do crescimento brasileiro?
Beltrão Diminuir radicalmente a intrusão governamental, seja a burocracia, quantidade de impostos, regulamentação em excesso e barreiras comerciais. Eliminar as reservas de mercado que são colocadas em lei hoje no Brasil e prejudicam muito a economia. Acredito que um candidato com uma plataforma liberal tem boas chances de vingar, porque as pessoas já reconhecem que o estado atrapalha o crescimento econômico brasileiro. Uma agenda liberal terá muito eco em 2018.

DI&C – Você é presidente do Instituto Mises Brasil (IMB), que desenvolve um trabalho de propagação do liberalismo em nosso país. Porém o liberalismo está longe de estar no mainstream acadêmico em nossas universidades. Nesse sentido, como o IMB pretende atuar no médio e longo prazo para enfim levar o liberalismo para esse meio?
Beltrão Quando começamos em 2007, era basicamente inexistente a divulgação das liberais na academia. De lá pra cá houve uma grande demanda por parte dos alunos que pediram aos seus professores para convidar liberais para palestrar em eventos no Brasil inteiro. Isso aconteceu muito, acontece cada vez mais e tem criado uma mudança interna no clima. É claro que os professores de pensamento distinto ainda estão lá, mas um dia se aposentam, e as novas gerações assumem. Como estamos trabalhando nas bases, os liberais tendem a ganhar espaço. Além disso o Instituto Mises Brasil tem em seu planejamento estratégico criar um robusto Centro de Liberdade Econômica em uma universidade de grande porte de forma que possamos divulgar de forma mais sistemática as ideias liberais e impactar em políticas públicas. É um objetivo que vamos perseguir fortemente no médio e longo prazo.

DI&C – O movimento liberal vêm crescendo a exemplo do Students For Liberty (SFL) no Brasil, do CELID – Clube de Empreendedorismo, Liberdade e Democracia aqui no Paraná. Recentemente o senhor lançou a chamada Rede Liberdade, afim de coordenar grupos e organizações liberais em ações sincronizadas. Como esses movimentos liderados por jovens podem se relacionar com os grandes institutos, como o do senhor, para a efetiva propagação do liberalismo no país?
Beltrão Já trabalhamos junto com os movimentos “jovens” que realizam eventos culturais e atuam nas universidades, e fazemos parte em grande medida das iniciativas conjuntas, via Rede Liberdade ou casos pontuais. O trabalho dos think tanks, como o Instituto Mises Brasil, pode complementar bem o trabalho desses grupos ativistas mais jovens, e acho que essa cooperação tende a crescer. Pela especialização do trabalho que cada um gosta de fazer é que podemos crescer mais ainda. Já há no Brasil mais de 200 grupos estudando liberalismo e Escola Austríaca de forma regular.

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